segunda-feira, julho 14, 2003


És uma equação impossível de resolver, um ser demasiado complexo para ser compreendido, uma acha demasiado rebelde para se apagar, um casmurro demasiado grande para perceber que não é necessário fazer um grande esforço para amar e ser amado.
Acho que nunca percebeste muito bem a intensidade do que sentia (e por vezes ainda sinto) por ti. Comportáste-te como um completo idiota, tratando-me abaixo de cão. Nunca percebeste que não precisava de nada de ti a não ser que fosses feliz e vivesses a tua vida. Nunca te quis perder.
Não percebes, meu amor? Não preciso de ti, nunca precisei, preciso apenas que sejas feliz e que não te intrometas na minha vida. Todas as pessoas à minha volta me dizem para te esquecer mas é porque não sabem que nem se escolhe quem se ama nem se consegue esquecer aqueles que amámos verdadeiramente.
Sabes, meu amor, estás diferente de ti próprio. Não sei exactamente em quê mas secalhar foram os meus olhos que mudaram. Já não sei e acaba por ser como já disseste "Não sei o que sinto por ti, nem quero saber." "Porque sabes, meu amor, que não há amor, há provas de amor. Fico à espera delas"- Margarida Rebelo Pinto in Verde e Azul

sábado, julho 12, 2003


As velhas constelações do mundo tão velhas como as palavras. Ó tranquila fragrância, ó puro frio das sílabas celestes! Penetramos na frescura indivisa, onde a perfeição acende a sua intacta claridade. Estamos num regaço onde somos compreendidos e há alguém, talvez apenas um puro espaço, para quem escrevo as palavras que não digo.


António Ramos Rosa

in Três Lições Materiais (1989)

Para um amigo tenho sempre um relógio esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sal.


António Ramos Rosa

in Viagem através duma Nebulosa (1960)

sexta-feira, julho 11, 2003


As lágrimas não me enchem mais os olhos, passaram sim a inundar-me a alma, o espírito. Tal como as bruxas dos contos de fadas, vejo-me agora sem conseguir chorar embora a tristeza que carrego dentro seja maior que a que muitos suportariam.
Não faço ideia de como aguento estes dias sem fim, esta vida que não principia.
Coração meu gentil, que te partiste, tão cedo deste corpo, descontente... fica com ele eternamente, aquele que te dilacerou deixando-te para sempre triste.

Estranhos fantasmas povoam os meus sonhos, como se cada célula, casa molécula do meu ser estivesse assombrada.
A dor que tu (e outros) me causaste, criou em mim um monstro, pronto a devorar toda a minha esperança de algum dia.

quinta-feira, julho 10, 2003



Aquele que amo realmente pergunto-me se algum dia terá sido real. Talvez um instante, mas o que amo existe somente na minha memória, uma memória semi-inventada baseada em ti. Como criei esta imagem tua que amo e amei não faço ideia, mas como é que me apaixono de novo por ti de cada vez que te vejo ainda, é um mistério ainda mais dificil de deslindar.

Não sei o que pretendes de mim de cada vez que "voltas" do mundo dos espíritos, dos desconhecidos, dos incautos mas se, como um dia me disseste, não me queres magoar deixa de irromper pela minha vida adentro, por favor! Odeio o que causas em mim, sempre que te vejo ou que ligas transformas-me como se, ed repente, fosse obrigação minha carregar todo o peso do mundo.

E pronto, lá fico eu "de rabinho entre as pernas" mas sempre à espera daquela festa que me elevará ao mais alto espectro das emoções. Mas a festa não chega nunca, o teu amor não chega nunca e, por mais que te ame, não posso ficar eternamente, de vida congelada à espera que a festa chegue, que o amor chegue... que tu chegues pois a vida é para ser vivida. Mas não te preocupes meu amor, viverás eternamente neste meu pobre e frágil coração que tornaste teu.


Todas as noites, naquela altura em que os sonhos ainda não te invadiram mas em que já não fazes parte da realidade do teu dia-a-dia, me estendo na minha cama, sem ti a meu lado e penso "É desta. Já não aguento mais, não quero viver, não quero sentir, não te quero amar.". E já só adormeço depois de derramado um mar, um mar de lágrimas que se vai acumulando ao longo do meu pesaroso dia-a-dia e que só na calada da noite, na escuridão e solidão que ela me oferece, encontra caminho para fora de mim. Cada lágrima detida inunda-me o espírito, a alma, o coração. "Não sei como aguentar mais um dia"-penso.
Mas afinal a vida é isso mesmo. É apenas um dia que se segue a outro e, por mais surpresas e coisas novas, a vida é sempre a mesma.

E é por isso mesmo que, quando acordo depois de adormecer exausta (de tanto chorar), assim que acordo é apenas outro dia e como uma criança que dá os seus primeiros passos, aprendo todos os dias que afinal basta pôr um pé à frente do outro e andar, basta viver cada dia como um só e não olhar para trás.

terça-feira, julho 08, 2003


Entraste na minha vida sem pedir licença, deixei-te entrar sem me aperceber, amei-te sem (te) querer e abandonaste-me sem pensar.

Agora, sinto-me só e desamparada como se nada no mundo pudesse calafetar o buraco que deixaste, como se o mundo fosse um deserto imenso ou uma selva profunda onde o único som audível é o do meu coração a bater em vão.

Não sei se aguento muito mais esta situação, fazes de mim o que bem te apetece. Quando ligas, mesmo com calor, começo a tremer e sempre que desligas as lágrimas começam a correr, a correr até a última cair e então, só aí, adormeço para acordar em suor, com o espírito cheios das imagens, dos pesadelos que me causaste, das lágrimas que já não posso chorar.

À muito pouco tempo atrás, tinha já aprendido a suportar a vida sabendo que nunca te terei mas, depois daquela quarta, isso mudou. Fizeste com que uma centelha de esperança se me acendesse no espírito e colocaste-me sonhos acerca de um futuro distante.

E agora? o que queres que faça? vou ter de recomeçar o meu caminho até às trevas para conseguir matar, de novo, a esperança e os sonhos.