segunda-feira, novembro 28, 2005


Dispo-me, num último extase, lenta e cuidadosamente. Sei que sentirei falta da suave carícia da roupa tocando-me. Sentirei falta do chilrear dos pequenos pássaros que nascem defronte da minha pequena janela para o mundo.
A banheira está fria, envolve-me no seu seio, lembra-me o meu próprio corpo... olho, para o lado, para a lâmina que brilha como uma estrela caída do céu esperando-me como a um amante... Pego, pelo cabo macio, naquele objecto que é mais que ele próprio, naquele objecto que me pede sangue, o sangue quente que me corre nas veias, o sangue que me percorre a mil à hora na ânsia de sair de dentro.
Passo a língua ao longo da sua lâmina, corto-me e saboreio-me, arde e liberta-me... A dor percorre-me a espinha num espasmo de prazer. Lábios, pescoço, peito... acaricia-me inteira... inclino-me para a frente, sem medo, sem terror nem paixão e ela penetra-me peito adentro, coração adentro, alma adentro. Expludo... de prazer? de terror? O sangue, quente, pretencioso, vaidoso, corre a passos largos de mim como se nunca tivesse sido meu algum dia.


Acordo... não sabendo se o sonho é realidade se a realidade é sonho... A paz... parece que o calor desapareceu. De repente, as sirenes...
Não percebo o que se passa...

A parede branca à minha frente move-se, começo a ouvir estranhos sons. Não estava eu deitada na minha cama?

Tudo pára...

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