sábado, maio 22, 2004


Os anos passam... embebedo-me nos meus sonhos, como que afogada em alcoól poético. É fácil, sabes..., escondermo-nos por detrás da ébria saudade do tempo em que não existiamos... o meu coração bate a mil à hora mas tu não o sentes, a paixão transborda-me as veias mas achas-me morta, calcinada sobre o fogo das tuas mãos, das tuas palavras vãs de combustão fácil, olhos flamejantes de quem perdeu o doce da vida que é o estar vivo.
Deixa-me ir embora... tenho escrito no sangue que este não é o meu sítio, que estou longe, muito longe, daquilo que realmente sou.
Talvez um dia, um dia destes, a minha alma se encha de mil cores, tome asas e voe,... voe alto, muito alto,... para te ver aqui sentada, soluçando o meu voo por não me quereres deixar partir, por não quereres que a criança que fui (cujo corpo deposita ainda em mim) fique grande... muito grande... e que a percas para sempre. Mas ela fugiu, não com asas mas com palavras, fugiu no sopro do vento quando a pensavas segura, envolta nas masmorras dos teus braços.
Ela não volta... mas tu não choras, não choras porque olhas o seu corpo putrefacto e pensas que está ali, de braços abertos como nunca esteve, para te receber com um olá carinhoso, lagriminha no olho, força viva pulsante mas debaixo do teu domínio.

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terça-feira, maio 11, 2004


O rio das minhas lágrimas desagua-me no peito, afoga-me o coração, sufoca-me a alma. Porque não acedes ao meu pedido, coração ignóbil, de desapareceres deste corpo nulo de esperanças? Deixa-me! que a saudade te dilacera, magoando-me! Deixa-me por favor, peço-te, deixa-me, deixa-me gozar um pouco da paz do vazio. Não aguento! pára de me apunhalar, pára!
Não te sinto já, mas sei-te escondido em mim pois as lágrimas ainda caem, dentro e fora do meu peito, como chuva grossa, vendaval interno, tristeza infinita de um corpo sem alma.
Parte, parte agora por favor... deixa-me... parte, vai ter com ele, guia-o nas trevas em que mergulha, dia-a-dia sem descanso... vai! vai com ele, que precisa de ti.
Não consigo... não consigo viver sem ele, sem o calor da sua distância, sem a certeza de que está bem.

Liberto-te, meu amor, de tudo em mim...
Nunca quebrarei o que resta do nosso coração, da nossa pequenina semente que mora, em ti escondido e em mim à vista de todos. Não te culpo, nem pelas lágrimas que me cobrem ao adormecer, nem pelo desfecho... não é culpa tua, nem minha, é do mundo, talvez, ou do Destino que com as suas garras em forma de gente, nos remeteu a ambos a este inferno vivo que é a distância a que as nossas vidas estão uma da outra. Não sei ... talvez até nunca saiba mas, o que sei, já existe em mim como certeza inabalável à muito, muito tempo e é que, simplesmente, te amo, agora e para sempre e que nunca, mas nunca serei de ninguém como fui, como sou, tua.