segunda-feira, fevereiro 14, 2011


No início, apenas dois estranhos que cruzam caminho... a coberto da noite sem luar, num espaço que existe apenas naquele instante nas suas mentes, tocam-se ao de leve... Tocam-se como quem tem medo de estar, como quem precisa de autorização para ser.
Ao primeiro toque, tão inseguro, tão cheio de medos e sonhos perdidos, seguem-se outros mais sôfregos, mais sofridos, menos contidos. Num bater de asas de um rouxinol a barreira quebra-se, despidos que estão os amantes de si mesmos, das barreiras impostas pela realidade e pelo tempo que correm loucos lá fora, tão longe do abraço terno e doce, violento e cruel, na certeza de que é apenas uma questão de tempo do tempo entrar pela porta da consciência e do medo e gelar os corpos até então quentes do sorriso da pura felicidade.
Os dedos, as línguas, as próprias palavras, lançadas inocentemente na calada da noite são como dardos venenosos que dilaceram a carne tenra e macia dos enamorados incautos, deixando a alma exposta apenas por um instante, não mais que por um sublime e rápido suspiro de prazer e entrega.

A luz da manhã desponta... os amantes, até então entrelaçados, acordam estremunhados, cegos pela luz do novo dia, feitos surdos da chegada do tempo, da hora, do instante de voltar à rotina, do voltar aos dias cinzentos em que estão cegos e surdos e onde o sorriso é apenas uma miragem, é apenas uma ilusão que existe somente no instante em que os corpos se voltam a unir.

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Com a noite, regressa o frio da cama vazia... regressa o espaço em branco que deixas sempre que não estás (ou não és) junto de mim, por entre os lençóis de cetim negro, escolhidos com a alvura de quem não sabe que ama, de quem acredita sentir apenas a nostalgia do sabor guloso, voraz, metálico de sangue, acre, suave e melífluo de um beijo suave quando as luzes se apagam lá fora.

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A tua carne quebra na cadência do meu toque, sinto na tua pele a energia do encontro com a mão que te acaricia a rosto... a dor da busca frustrada do ardor que agora te consome de dentro para fora, está ainda latente nos teus olhos quando me olhas na escuridão, com a esperança de não seres visto como o ser danificado que és, escondido na dor que ofereceste a ti mesmo e com que te banqueteaste sozinho durante anos...

terça-feira, fevereiro 01, 2011



toca-me com a ponta do indicador apenas...
toca-me os lábios, pede-me o silêncio ensurdecedor que me consome de dentro para fora...

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“Os amores são para ser vividos, sonhá-los não basta. São para se consumir, até que morram, talvez, mas sem medo, com ganas, com desejo, com vontade, como se não houvesse amanhã, porque, em abono da verdade, ninguém pode saber se amanhã, (…) ainda cá estaremos, eu, tu, qualquer uma das pessoas que amamos.”


Margarida Rebelo Pinto

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