sábado, janeiro 19, 2008

Um texto comprido


Então chegaram a minha casa e disseram-me:
-Mas você não consegue escrever coisas compridas!
-Coisas compridas como?
-Bem, romances, crónicas autênticas, ensaios sólidos.
-Não, isso não sou capaz.
-Então você não é um escritor.
-Pois não. Quem se atreveu a chamar-me tal coisa? -aí é que eu me ia encanzinando.
-Não é ofensa, desculpe. Mas uma coisa comprida, por favor, não arranja?
-Olhe, o mais comprido que tenho é isto. E já foi difícil. Quando as coisas vão a ficar maiores, deito logo fora. Compreende, não é?
...


Mário-Henrique Leiria

in Contos do Gin-Tonic